José Luis Pardo, professor de filosofia e ensaísta: “Não há horizonte utópico, apenas luta pelo poder”

José Luis Pardo (Madri, 1954) é professor de filosofia na Universidade Complutense e especialista em correntes de pensamento contemporâneo. Estudou em detalhes … e traduzido em figuras essenciais da filosofia moderna, como Deleuze, Debord ou Levinas, que contribuiu para se espalhar na Espanha. Em seus livros e artigos, ele freqüentemente para no papel de arte e artistas nas sociedades atuais. E neles também disseca o momento atual da vida espanhola e, em geral, do mundo ocidental, dos quais faz um diagnóstico mínimo preocupante: não há utopias e tudo consiste em uma luta política feroz com o único objetivo de alcançar o poder e todas as instituições, mas sem ter uma idéia definida de qual objetivo.
– Estamos vivendo na era do desconforto?
– Ao falar sobre o estado de bem -estar e sua crise, sempre pensamos no material, o que é muito importante, mas é mais do que isso. Há outro aspecto que é legal. E isso é, além das flutuações econômicas, o que foi mais afetado. Uma ofensiva clara pode ser detectada para ir além das instituições do estado de direito. Embora eu tenha que dizer que isso não apenas acontece aqui.
– Esse desconforto leva a corroer o modelo político, mas para quê?
– Não há mais horizonte utópico. O que é dado é uma luta política feroz, mas apenas pelo poder no sentido mais cru. Por influência do populismo, o estado de direito é corroído de modo que o objetivo é ocupar as instituições, mas sem um horizonte, como eu disse.
Ocupar as instituições
– isto é, conquistando o poder, mesmo que você não saiba muito bem o que fazer quando chegar a ele.
– Eles só querem isso. É uma constante das revoluções desde o século XX. O marxismo não tinha uma teoria do estado, portanto, quando os bolcheviques alcançaram o poder, substituíram o estado pelo aparato do partido. E isso é algo que se assemelha ao que está acontecendo agora, quando algumas partes estão ocupando não apenas o governo, mas todas as instituições do Estado.
Deterioração democrática
“Não há mais um lugar onde os participantes possam apertar as mãos”
– Refere -se a essa alegação de que o judiciário também é controlado pelas mesmas forças que têm uma maioria parlamentar ”
– O judiciário não é escolhido pelo voto popular, mas isso não o delega. Pelo contrário, é legitimado como um contrapeso dos outros poderes. O problema é que a divisão que ocorre no Parlamento começa a atravessar todas as instituições. Não há mais um lugar onde os participantes possam apertar as mãos. Tudo é impregnado com essa divisão política. E parece surpreendente que sejamos escandalizados ao descobrir que alguém usou seu poder para conectar outra pessoa em um emprego de 1.500 euros por mês, mas não pelo fato de que tantos políticos são colocados na administração de empresas com salários de seis dígitos.
– Ele disse uma vez que, após 11 m, um abismo abriu, ele só aumentou.
– Até então, havia um bipartidarismo imperfeito, no sentido de que, em algumas ocasiões, os dois grandes partidos precisavam do voto de alguma força nacionalista para governar. Mas, a partir da lacuna que ocorreu, não há possibilidade de concordância entre eles. As forças que tentaram costurar essa lacuna falharam e aqueles que desejam aumentar a crescer. E esse corte também é dado em instituições como a Universidade, que deve ser o Templo da Liberdade de Expressão. Mas quando é oficialmente pronunciado em alguma coisa, é marginalizar aqueles que pensam de maneira diferente. Esse mal -estar sem pêlos se espalhou para tudo.
– A classe trabalhadora foi aparafusada e perdeu seu poder revolucionário, geralmente comenta. Portanto, uma certa esquerda levou outras bandeiras com as quais a mesma coisa acontece e é por isso que mantém a tensão. Mas o que se pode esperar de tudo isso.
– Uma tarefa feita para a classe trabalhadora era carregar de costas para as esperanças da humanidade. No entanto, o dia mais feliz daquela aula foi quando ele podia saltar. Ou seja, quando se formou por cidadãos que decidem sobre suas vidas. Isso roubou os partidos revolucionários uma força de choque. Agora, essas partes transmitem a defesa de algumas minorias que têm interesses divergentes e até opostos em alguns casos. O problema é que apenas a cidadania é gerada sobre o que você tem em comum.
– Você diz que a maioria não é feita adicionando minorias que não têm nada em comum e até competem em determinadas áreas. O atual governo parece demonstrar o contrário.
– O todo não é igual à soma das partes. As pessoas não são pessoas que encontram um lugar, mas a vontade de viver juntas sob a mesma lei. Adicionar minorias para fazer a maioria é o ABC do populismo. É apenas eliminar o adversário e tomar o poder. Conversamos antes disso.
Desprezo por normas
“O princípio da democracia liberal é que, no espaço público, somos todos iguais, e isso não está acontecendo”
– Há quem pense que uma certa esquerda é determinada em batalhas que já foram vencidas. O da igualdade, por exemplo. Ninguém defenderia o contrário hoje. Você vê assim?
– Se o objetivo fosse a igualdade legal, eu seria alcançado. Ninguém hoje reivindica um retorno à discriminação. Mas acontece que frequentemente falamos sobre igualdade real e nessa área há coisas não bem resolvidas. O que não pode ser feito é buscar a igualdade da diferença. Em uma sociedade com um jogo livre, mais cedo ou mais tarde, haverá desigualdades. A única maneira de evitá -lo é acabar com a liberdade. E eu entendo que não queremos, então devemos arbitrar medidas compensatórias.
– Alguns inimigos da liberdade de pensamento se consideram progressista. Porque?
– Eles lhe dirão que fazem isso para melhorar a coexistência. Quando ouço a palavra ‘coexistência’, pelo menos recebo a mesquita. O princípio da democracia liberal é que, no espaço público, somos todos iguais. E isso não está acontecendo. Antes da escola, eles o trataram da mesma forma em sua origem ou outras características. Agora, cada criança acompanha sua identidade e o professor precisa adaptar sua classe a essas identidades.
– O engraçado é que, antes de ser inquisidor, tive uma má imprensa. Agora não.
– O paradigma da liberdade de expressão é a arte. Hoje, a obra da arte é legitimada apenas por um discurso político fora do artístico. Até dois dias atrás, criticamos os nazistas e stalinistas por terem arte reprimida e usados para seus fins. E acontece que agora o uso político da arte é o moderno. Isso é o mal: não apenas os artistas contemporâneos precisam de um discurso político para se legitimar, mas mesmo a história da arte é corrigida para se encaixar nas obras nesse discurso. Os artistas só são valiosos se estiverem relacionados a uma posição específica.
O papel da arte
– Falando em arte, você explicou que nessa área há um motivo para as correntes de esquerda que falharam em seus projetos políticos, mas que consideram que uma mensagem revolucionária pode ser filtrada dessa maneira. É assim mesmo?
– Nos EUA, ainda existem instituições que defendem a autonomia da arte, mesmo que sejam questionadas, como museus. Eu acho que mostra mais em países onde a arte e seus criadores dependem mais do estado. Isso acontece como na imprensa: quando a publicidade diminuiu, começou a depender mais das autoridades políticas.
– É impressionante que eles atirem nos artistas do sistema que apenas sobrevivem graças a ele. Talvez seja outro efeito de desconforto. Ou talvez muitos artistas tenham confundido a ideologia com o fechamento de linhas com uma força política concreta.
– Eu já ouvi alguém dizer que a literatura resta. E apenas salvou muito poucas exceções. É impossível determinar se uma obra de arte, por si só, despojada de toda a fala, é esquerda ou direita. A condenação que pesa em artistas que não mantêm essa idéia é que seu trabalho também tenha sido invadido nesse sentido de que estamos falando.
Poluição
“Os artistas contemporâneos hoje precisam de um discurso político para legitimá -los”
– E é uma ideia que chegou ao público. Há quem argumenta que, com o de bons autores que existem, ele só lerá os escritores para serem pessoas boas; isto é, com quem ele compartilha ideologia. O que você acha?
– Não apenas afeta artistas vivos. Há pessoas que lhe dizem que nunca lerão Proust ou assistirão filmes de John Ford porque estavam certos. Além disso. Hoje, os artistas vão ao conselho da cidade e dizem a um dos responsáveis por ter um projeto para realizar um trabalho. Se eles aprovarem, será exibido em um centro público. Antes de ser os fãs, o público, que legitimou uma obra de arte. Agora o público não pinta nada. O divórcio entre arte politizada e o público é absoluto. É por isso que não há público.
– que a rejeição de certos artistas que falaram com ele ficou claro quando Vargas Llosa morreu. Muitos o criticaram com força por sua ideologia e disseram que seu trabalho não valeu a pena nesse contexto.
– Vargas Llosa foi um grande escritor que levantou a inveja de todos. E todas as causas, de todo sinal, gostariam de ser defendidas por ele. Ele era um escritor que considerou sua obrigação de intervir na vida pública, interpretando seu prestígio nela. Apenas o oposto do que tantos fazem hoje.
Evolução social
“Em uma sociedade livre, mais cedo ou mais tarde haverá desigualdades”
– Gostaria de pedir ódio. Faz sentido proibir alguém de manifestar seu ódio?
– Os crimes de ódio são um debate aberto na UE, no qual alguns lobbys participam. O ódio, como o amor, é inerente ao coração humano. Também poderíamos pensar que há crimes de amor. A responsabilidade está realmente no que você faz com seu ódio ou com seu amor, não com o seu sentimento. E então o debate é por si só o que alguém sente levar ao registro desse sentimento, que é o que acontece com o gênero. Eu acho que o que é feito às vezes não é mudar as leis, mas pervertê -las. Além disso, acontece que as políticas de igualdade são muito caras, devido aos recursos que a identidade deve ser usada, enquanto a identidade é muito barata. O que acontece é que, a longo prazo, eles estão deteriorando o sistema. Sem mencionar os efeitos colaterais de algumas medidas. Todos nós já ouvimos argumentos a favor das cotas, mas também a algumas pessoas que pediram que não fossem aplicadas porque, com elas, um estigma pode ser criado: o de quem obteve um lugar por ação e não por seus méritos.
– Vamos falar sobre o papel dos revolucionários. Você diz que nunca foi menos perigoso ou bem pago como agora. O engraçado é que existem revolucionários da rede X que pedem conservadores a pessoas que estavam presas por sua militância. É ignorância ou vergonha?
– Pode até ser um funcionário revolucionário. É algo contraditório em si. Está acontecendo em alguma dinâmica na universidade, na qual o desaparecimento de assuntos fechados e sua substituição para sessões de debate levantadas pelos estudantes são levantadas. Isso pode nos levar à filosofia, meu campo, os alunos terminaram a corrida sem ter visto Aristóteles. Mas retornando aos revolucionários, também estamos enfrentando um álibi. Alguém pode se opor a um professor e se ele não substitui o lugar para dizer que é por ser revolucionário.